terça-feira, 2 de março de 2010

Educação (I)

Um dos problemas mais graves que Portugal atravessa reside na degradação das suas instituições. É urgente conseguirmos recuperar a sua integridade, dignidade e funcionalidade. Uma das instituições fundamentais de que depende a nossa prosperidade económica, a dinâmica cultural e a vitalidade da cidadania do nosso País é a Escola. E tem sido esta precisamente uma das instituições mais menosprezada e atacada nos últimos anos.
A Escola é o lugar, por excelência, da transmissão de conhecimentos, de saberes, de competências. É o lugar onde se formam profissionais e cidadãos. É isso que a Escola deve à sociedade em geral, e aos alunos em particular. Mas para que a Escola cumpra bem a sua missão, os seus valores próprios têm de ser respeitados e cultivados. São os valores do rigor, da exigência, do trabalho, disciplina, esforço e da dedicação.
Em Portugal temos assistido à delapidação sistemática desses valores, não só por cedências injustificáveis à ideologização do ensino, mas também pela obsessão com grandes resultados estatísticos, tornando o sistema alvo fácil de manipulações. Por outro lado, os sucessivos governos socialistas não compreenderam que a personagem-chave na realização dos valores próprios da Escola é o professor. Essa incompreensão atingiu o absurdo de se querer impor à força uma modalidade artificial e burocrática de avaliação dos professores, ao mesmo tempo que a Escola se ia demitindo da sua função primordial de educar e avaliar os alunos.
Paulo Rangel

1 comentário:

  1. Concordo e diria mesmo um pouco mais.
    Não é uma reforma mas uma contra reforma para a Educação, as medidas políticas que foram e continuam a ser implantadas por este novo governo de Sócrates.
    Os professores são culpabilizados, não por serem menos exigentes, mas por serem exigentes de mais; não por saberem de menos, mas por saberem de mais.
    A “raiva” que esta contra reforma sente pelos professores, é seguramente pela dimensão humanista que a maioria dos professores possuem, pela sua abnegação pelo ensino que praticam, pelos valores éticos que transmitem aos seus alunos, por serem intelectuais e não apenas transmissores de conhecimentos desprovidos de valores de cidadania.
    O “desprezo” que o governo manifesta por estes “professorzecos” (como os trata em privado), é por sentir que estes professores possuem uma dimensão humana incompatível com a sua “reforma”.
    Uma contra reforma onde não se deseja que os professores sejam educadores mas sim apenas instrutores; onde não se deseja um ensino humanista e universalista mas ao contrário um ensino vazio e alheio aos valores da cidadania, um ensino puramente tecnicista e utilitário.
    Um ensino onde não se formem cidadãos mas consumidores. Um ensino onde a socialização do aluno não se faça por padrões éticos e morais, de fraternidade, solidariedade, tolerância, abnegação, mas por uma socialização em que apenas conte o espírito individualista, egoísta e utilitário.
    E neste projecto neoliberal do governo Sócrates para o ensino, a avaliação dos professores é apenas um pequeno fragmento do puzle. O Estatuto do aluno, a nova organização da escola, o Estatuto da carreira docente, a nova configuração pedagógica, são as outras peças que o complementam.
    É esta a “modernidade” que se pretende para o ensino em Portugal.
    Retirar a Educação do campo social e político e ingressá-la no mercado para funcionar à sua semelhança; adequar a escola aos mecanismos do mercado.
    O projecto neoliberal nada tem a ver com a Social Democracia. A Social Democracia exige que não se desvalorize e humilhe os serviços prestados pelo Estado na sua função social, os serviços do sector público, a escola pública, onde os professores não sejam acusados de preguiçosos e de lutarem por interesses meramente corporativos.
    Professores que assumam um papel de intelectuais transformadores, que tratem os seus estudantes como agentes críticos, que questionem a produção e a distribuição do conhecimento, que utilizem o diálogo, e tornem o conhecimento crítico e emancipador.

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